Paraopeba

Completados seis anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a mineradora, já condenada a reparar os danos causados, ainda não limpou nem dois quilômetros do Rio Paraopeba. Com o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em 2019, o Rio recebeu 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério – um dos maiores crimes ambientais da história – e a perspectiva de reparação segue distante.
O Plano de Reparação Socioambiental, que compõe o Anexo 2 do Acordo Judicial de Reparação, prevê a remoção e destinação adequada dos rejeitos despejados no Rio Paraopeba até a Represa de Retiro Baixo, localizada entre os municípios de Curvelo e Pompéu – a 320 km do local do desastre criminoso. Se o cronograma inicialmente proposto fosse cumprido, 54 km do Rio Paraopeba deveriam ter sido limpos pela Vale até dezembro de 2024. Porém, a segunda maior mineradora do mundo ainda não foi capaz de concluir a limpeza do Trecho 1, que compreende os primeiros dois quilômetros depois do ponto do rompimento.
Em outubro de 2024, a Vale entregou a sétima versão do Plano Integrado de Dragagem, que prevê a conclusão da limpeza do Trecho 1 (dois quilômetros a partir da confluência com o Ribeirão Ferro Carvão) em 2025, e do Trecho 2 (até o terceiro quilômetro a jusante, ou abaixo da confluência) até 2026, com a implementação da dragagem mecanizada. A dragagem mecanizada, com a aquisição de novos equipamentos, visa otimizar o processo, mas o início dos testes com esses equipamentos só foi autorizado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) em janeiro. Ainda em fase de projetos, a limpeza dos demais trechos, entre três e 46 quilômetros do Rio Paraopeba, seria concluída até 2027.
Na reunião de janeiro, a AECOM, empresa responsável pela auditoria socioambiental do Acordo, alertou que a quantidade de material retirada do Rio foi muito baixa e, mantendo a condição atual, nem a meta prevista para os dois primeiros quilômetros será atendida. A auditoria é contratada pela Vale, conforme determinado no Acordo Judicial, e apresenta aos Compromitentes do Acordo – Governo do Estado de Minas Gerais e Instituições de Justiça – um diagnóstico mensal da reparação socioambiental. Essas apresentações ocorrem em reuniões das quais o Instituto Guaicuy e demais assessorias técnicas independentes da Bacia do Paraopeba participam como ouvintes. Os boletins dessas reuniões podem ser consultados aqui.
Dada a quantidade de rejeito de minério derramado no Rio e a lentidão da limpeza, especialistas alertam que os prazos propostos não são viáveis. Segundo um estudo do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), Assessoria Técnica Independente (ATI) da Região 3 da Bacia do Paraopeba, a retirada completa dos resíduos do Rio pode levar de 44 anos, no melhor cenário, até 741 anos, no pior.
“Todo o processo de dragagem do Rio Paraopeba caminha a os muitos lentos, inviabilizando assim as ações efetivas para uma verdadeira recuperação do Rio”, diz Mônica Campos, do Instituto Guaicuy. “O próprio processo de dragagem implica em muitos impactos secundários, que precisam ser monitorados e controlados”, completa a bióloga.
Além dos 26 municípios ao longo do curso do Paraopeba, Represa de Três Marias e calha do Rio São Francisco, o abastecimento hídrico de Belo Horizonte também foi afetado pelo rompimento da barragem da Vale. Até 2019, cerca de 30% da água consumida na capital mineira e região metropolitana era captada no Paraopeba. Depois do crime-desastre, a Vale assinou um termo comprometendo-se a construir um novo ponto de captação, com a mesma capacidade, antes do ponto de contaminação. O prazo inicial era setembro de 2020, mas, após vários adiamentos, por questões que incluem violação de direitos da comunidade local, a obra ainda não foi entregue.
Gráficos: Priscila Justina/Guaicuy.
Imagem: Daniela Paoliello/Guaicuy.
Minha água na época uma coceira terrível cansei de tomar remédios .tinha fotos e vídeos de minha caixa d’água da época mas perdi.