Na última terça-feira, dia 23 de abril, foi realizada uma reunião virtual com as Comissões de Pessoas Atingidas pela Vale das regiões do Baixo Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco (Regiões 4 e 5). O foco do encontro foram as ações de reparação socioambiental no território impactado pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho.
A reunião teve como objetivo principal apresentar e debater o conteúdo do ofício encaminhado ao Comitê Pró-Brumadinho, com reivindicações relacionadas à qualidade da água e aos impactos contínuos nos corpos hídricos dos territórios atingidos. “Eu desconheço as análises que o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) está fazendo, porque eu moro aqui na ponte e eu não vejo esse povo por aqui. E até disponibilizo um barco aqui para quem quiser vir aqui fazer as análises. Se você for no canal de fuga da represa, não tem nem lambari. Não tem água, não tem peixe, não tem ave”, desabafou Norberto Antônio dos Santos, de Felixlândia, integrante da Comissão dos Ribeirinhos do São Francisco.
Dentre os temas abordados, destacam-se as alterações na frequência de monitoramento especial das estações BPE6, BPE7 e BPE8 no reservatório da UHE Três Marias, cuja coleta de dados ou de mensal para trimestral a partir de maio de 2024. A mudança gerou preocupação entre os moradores, especialmente pela ausência de dados durante o período chuvoso, quando se espera uma piora da qualidade da água. Rosana Oberhofer, da comunidade de São Marcos, em Pompéu, componente da Comissão São Marcos e Santa Cecília, manifestou essa preocupação com esse tema durante os diálogos na reunião. “O rejeito na época de chuva não fica parado. Acreditamos que ela está contaminada sim. Os aguapés vem com aquele lodo, fedido, ali já está contaminado. É muito difícil, é até difícil, eles falam que pode tomar banho. Não dá. As instituições têm que olhar por nosso lado”, disse.
Uma comparação entre os períodos chuvosos de 2023/2024 e 2024/2025 é extremamente importante, mas estes dados não estão disponíveis. Outro ponto de atenção foi a insegurança hídrica enfrentada por comunidades da calha do rio São Francisco, onde análises indicam a presença de metais como o manganês acima dos padrões legais, com riscos à saúde e ao meio ambiente. Além disso, discutiu-se que a Usina Hidrelétrica Retiro Baixo liberou uma grande quantidade de macrófitas — vegetação aquática com elevada capacidade de bioacumulação de metais — provenientes de seu reservatório, à jusante do barramento, configurando um novo vetor de contaminação das águas e impacto indireto sobre as comunidades da Região 5.
A falta de respostas sobre a qualidade das águas atingidas pelos rejeitos da Vale é uma angústia constante entre os moradores e moradoras destas regiões. “Só o IGAM não nos dá a certeza de segurança de permanecer usando a água, né? A gente fica na ansiedade de saber como proceder. A gente sente na pele, ne?”, declarou Edilson Felício, morador de Morada Nova de Minas, da Comissão CAVAFRO.
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